A DANÇA CIGANA
O povo cigano é reconhecidamente um ícone de alegria, coragem e impetuosidade, mas o que pouco se explora nesse sentido é a questão do encontro interior que, não só é possível, como é fundamental através do desenvolvimento na dança cigana originando uma enorme emanação de amor, alegria e renovação de energia.
A dança cigana estimula todo o corpo emocional da dançarina e/ou dançarino, levando a um estado de humor que pode variar do extremo romantismo à alegria incontida. Tudo isso devido à entrega que o dançarino deve ter durante sua apresentação.
Existem movimentos específicos, passos próprios, como os tradicionais ‘pulinhos’ do coló, dança típica dos ciganos do Leste Europeu, ou a delicadeza nos movimentos suaves dos quadris das calins de Portugal - mas o que não existe jamais é uma coreografia obrigatória para uma apresentação, pelo simples motivo de que a dança cigana é uma dança livre que vem da alma. Um(a) dançarino (a) conhece os movimentos, sabe os toques dos instrumentos e o ritmo da música, e é capaz de diferenciar culturalmente um som do outro e identifica a cadência musical. Nesse contexto ela direciona seus movimentos de forma a torná-los parte integrante da melodia, permite que o som invada sua alma, muito além de seus ouvidos, num intrincado conjunto de som e imagem, onde dançarina e música mesclam-se em um espetáculo único.
São inúmeras as combinações possíveis, porque muito mais que pura técnica a dança cigana possui uma forte ‘expressão corporal, a expressão no corpo, expressão no olhar, expressão nos movimentos das mãos, expressão no movimento das saias e dos cabelos, tudo coordenadamente alinhado, em uma rebeldia uniforme, seja pungente ou suave.
O palco torna-se então a base para a manifestação do que a dançarina estiver sentindo naquele exato momento. Todo seu corpo, aliado à música, torna-se um veículo para a exteriorização de seu estado emocional. É nesse momento que entram os instrumentos de apoio: véus, lenços,
xales, leques, pandeiros, fitas, todos corroborando para a transmissão de sensações que podem aflorar desde a mais tenra doçura à fúria latente. É justamente isso que difere uma dançarina da outra, portanto jamais teremos duas profissionais da dança cigana com a mesma dança, ainda que utilizando a mesma música, pois a emoção interna de cada uma pertence somente a
si, e nesse particular basta aprender a externar o que lhe vai à alma.
A dançarina deve buscar, principalmente, quais são seus potenciais, o que realmente é capaz de realçar sua beleza interna e fazer brotar o mais íntimo de seu ser. Através das manifestações físicas de suas emoções (som, apetrechos e movimentos) a dançarina poderá compor uma bela dança, pois essa nada mais será do que uma materialização dos seus sentimentos, ou seja, o autoconhecimento é parte fundamental para que uma dançarina cigana possa desenvolver sua arte de modo a cativar seu público, expondo-se da maneira correta e criando um ambiente agradável.
As características pessoais são os itens mais importantes da dança. Além de ter o conhecimento técnico, o que deve obrigatoriamente fazer parte de um bom currículo de dança cigana, a dançarina precisa ser estimulada a se redescobrir, através de exercícios próprios para esse fim, onde todos os elementos da cultura cigana servem como ferramenta de apoio. A questão fundamental, então, é a dançarina se entregar a uma interiorização como se não houvesse nada além dela e da música e, nesse momento, sim, sua verdadeira expressão será realçada, atingindo todo seu público com a sublime manifestação dos seus mais íntimos sentimentos, momento esse em que dançarina e música se fundem harmoniosamente em uma única arte que corresponde paralelamente com experimentar, vivenciar e manifestar.
Certamente você observou o termo dançarina no texto, pois o homem (dançarino) exerce a função do “protetor”, da sustentação ao casal ou ao grupo, nunca esquecendo a tradição e costumes ciganos.
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